Pedro amava Ana tal como um equilibrista de circo que anda na corda bamba. Era um amor que fazia o corpo tremer, que dava medo e emoção. Era um amor de desafio. Era o amor do meio do caminho. Naquela linha solta no espaço, amarrada somente no início e no final. Todo o meio era bambo, instável e emocional. Era um amor que não podia simplesmente saltar e cair na rede frouxa, metros abaixo, pois não havia rede. Ele a queria como tudo ou nada. Como a alegria da chegada ou o desespero da desistência. A vontade de ficar para sempre ou a guerra do eterno fugir.
Mas, Pedro não amou
Ana à primeira vista, porque eles se viram desde sempre. Desde
crianças. Foi um amor que cresceu, ganhou curvas e desejos. Ela o
beijava no rosto com provocação e ele recebia os beijos como
redenção.
Nas tardes dos tempos
de colégio, enquanto Ana aprendia Matemática, Pedro desaprendia. Os
números, racionais demais, não combinavam com a poesia da voz
delicada, do cabelo castanho longo e sempre solto, da pequena pinta
que ficava logo abaixo da sobrancelha esquerda dela. Cada traço, tão
poeticamente ilustrado, não entrava na casa dos logaritmos. Só
cabiam nas caixas da memória, que ele reescreveria minuciosamente
cinquenta anos depois.
Todos os dias eram uma
voz que não saía, uma declaração que não era feita, olhares
furtivos...
Mas, um dia foi um
beijo roubado! Maquinalmente pensado. Estruturado por longos anos de
espera.
_O que você fez?_
perguntou Ana confusa
_Não gostou?_ ele
questionou inocente.
Silêncio.
Outro beijo.
Mais beijos.
Uma cama.
Uma cena daquelas que
ficam para sempre. Aquele amor adolescente nunca mais encontrado. Um
eterno des(equilibrista) na corda bamba, atônito e desencontrado.
Pedro que, ainda e sempre, ama Ana. Ana que não amou Pedro. Pedro
que não quis se atirar da corda. Ana que nunca foi ao circo.
2 Comentários
Os eternos amores não correspondidos! Os de infância e adolescência são os + marcantes!
BalasBacana! Gostei do desfecho!
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